Carta de um bebê que
não dorme a noite toda para sua querida mãe!
É, faço parte da estatística dos bebês que mesmo com meu tempo de vida,
ainda não dormem a noite toda.
Paciência, mamãe, e
vê se esquece aquela idéia de Muricalm, remédio para dormir, já vou avisar que
não vai adiantar ficar me drogando e podemos complicar ainda mais as coisas.
Acordo porque ao movimentar-me na cama tomo consciência de meu corpo e percebo
que estou só. No quarto com aquela luzinha minguadinha, as sombras todas são
assustadoras, o silêncio da noite me consome, não faço a menor idéia de onde
estão as pessoas e a luz do sol e então boto a boca no trombone e você vem.
Quando você chega sonada e calma, me abraça devagarinho, durmo num instante e
você volta para sua cama, mas quando você vem tensa, com vontade de não vir,
pensando em mamadeiras e tranquilizantes, soluções mágicas e urgentes, para eu
literalmente largar do seu pé nas madrugadas, aí a coisa enrola.
Eu sinto você,
não sou lá grande pensador, embora já tenha um raciocínio razoável, mas percebo
você como ninguém, leio a expressão do seu rosto, sei direitinho quando seus
olhos teimam em não me fitar e aí entro em desespero, você fica parecendo uma
mamãe monstra e não a minha amada mãe.
Diante desse quadro, reajo imediatamente
e sou capaz de transformar um despertar básico na madrugada, num bailão do zé
bolão. Sossega, mãe, eu vou dormir, vou surpreendê-la, mas para isso preciso de
um pouco de espaço para esse meu tempo interno.
Não estou doente, sou um bebê
feliz, que come bem, se desenvolve bem, tenho um bom peso, bom tamanho,
só não processei ainda essa história de ficar sozinho dormindo a noite inteira,
mas chego lá. Logo eu vou começar a andar, gastar mais energia, ficar mais
cansado e então uma bela noite vou adormecer e só acordar de manhã.
Você verá
que nem chorar mais eu vou, provavelmente sentarei na cama para brincar,
passarei a chamá-la em vez de chorar e garanto... muitos anos passarão em sua
vida e você sentirá saudade dos meus tempos de bebê, dirá para outras mães que
essas madrugadas – quando não se sabe se estão indo ou vindo dos quartos de
seus bebês -, são noites mágicas de aprendizado, superação, vínculos que mudam
de formato.
Nada é para sempre, mamãe, tudo passa, tudo muda dia após dia,
noite após noite.
(Trecho do livro “Bebês de Mamães mais que perfeitas” – Claúdia Rodrigues)
Essa é a realidade da mamãe há exatos 214 dias.
Te amo, filho!
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